O projeto “Resposta à Crise Climática na Amazônia”, liderado pelo Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF), foi premiado como o trabalho mais bem avaliado do Eixo Temático 2 – “Tecnologias de Acesso à Água em Terras Indígenas na Amazônia” durante o II Encontro de Tecnologia Social da Amazônia, realizado em Manaus, no final do último mês de junho. A iniciativa contempla a Reserva de Desenvolvimento Sustentável (RDS) do Tupé, território localizado na zona rural de Manaus, onde vivem famílias ribeirinhas e indígenas em permanente desafio para garantir o acesso à água segura e ao saneamento básico.
Desenvolvido entre 2023 e 2025 nos estados do Amazonas, Pará e Rondônia, com apoio financeiro da União Europeia (ECHO), o projeto integra ações emergenciais e estruturantes para ampliar o acesso à água, ao saneamento e à higiene (WASH) em comunidades afetadas pela seca extrema e pela intensificação dos eventos climáticos. As atividades são realizadas em parceria com o Governo do Amazonas, a Secretaria de Saúde Indígena (Sesai), os Distritos Sanitários Especiais Indígenas (DSEIs), universidades, instituições de pesquisa e organizações da sociedade civil.
“Esse reconhecimento reforça a importância de investir em soluções adaptadas à realidade amazônica. A crise climática não é um risco distante: ela já impacta diretamente o cotidiano de milhares de famílias indígenas e ribeirinhas. Nosso compromisso é somar forças para que essas populações tenham acesso regular à água potável e a serviços de saneamento de qualidade”, afirma Paulo Diógenes, Oficial de Água, Saneamento e Higiene do UNICEF e coordenador da iniciativa.
Resultados alcançados
Entre os principais resultados, estão a reabilitação de sistemas de abastecimento, a instalação de tecnologias como bombeamento solar, filtros e cisternas de placa, além da distribuição de insumos emergenciais e de equipamentos para análise da qualidade da água. O projeto também se destaca pela aplicação de metodologias da Organização Mundial da Saúde (OMS), como o Plano de Segurança da Água (PSA) e o WASH-FIT, adaptadas à realidade amazônica para fortalecer a resiliência local.
Mais de 200 comunidades indígenas e ribeirinhas da região alcançadas pelo projeto. No total, cerca de 70 mil pessoas foram beneficiadas diretamente com melhorias no acesso à água, além de aproximadamente 10 mil com kits de higiene e dignidade menstrual. Ao todo, 91 unidades de saúde e escolas receberam melhorias na infraestrutura de abastecimento de água e/ou energia solar fotovoltaica.
Moradora da comunidade São João do Tupé há 32 anos, Cleiciane Souza destaca o impacto direto das ações realizadas no território.
“A parceria com o projeto transformou a nossa realidade. Recebemos cursos, placas solares e até uma bomba d’água reserva, que é algo difícil pra uma associação ribeirinha conseguir. Hoje, mesmo quando falta energia, conseguimos bombear água para todos. É importante mostrar essas conquistas, porque elas nos dão esperança e mostram que podemos alcançar muito mais.”
O reconhecimento no congresso é também um incentivo à articulação entre órgãos públicos, organizações indígenas, universidades, sociedade civil e organismos internacionais. A experiência do UNICEF evidencia como a integração entre saberes locais, tecnologia social e políticas públicas pode gerar soluções replicáveis e sustentáveis para a região amazônica.
Iniciativa em números
– Cerca de 70.000 pessoas beneficiadas com melhorias no acesso e monitoramento da qualidade da água;
– Mais de 200 comunidades indígenas e ribeirinhas atendidas;
– Aproximadamente 10.000 pessoas beneficiadas com kits de higiene e dignidade menstrual;
– 91 unidades de saúde ou escolas receberam melhorias em infraestrutura de abastecimento de água e/ou energia solar;
– 3 cisternas de placas de 52 mil litros construídas na região do Rio Solimões.
Texto: Luiggi Bacelar
Foto: Cosama (Foto do grupo de pessoas)/ Paulo Diógenes (Foto da Placa Solar) e DSEI do Alto Solimões (Foto da Unidade Saúde)