Principal evento esportivo deste fim de semana, 22 e 23 de março, na Arena Amadeu Teixeira, em Manaus, o 38º Campeonato Amazonense de Jiu-Jítsu Gi e Nogi será marcado pela inclusão de atletas com os mais diversos tipos de deficiência – física, intelectual, mental ou sensorial. É o que garantem o presidente da Federação de Jiu-Jítsu do Amazonas (FJJAM, Elvys Damasceno) e a Federação Amazonense de Jiu-Jítsu Paradesportivo (FAJJP).
Superação
O mundo do esporte é frequentemente associado à competitividade e à superação de limites. No entanto, um grupo de atletas está provando que a verdadeira força não está apenas na habilidade física, mas também na resiliência e na determinação. Nos eventos da FJJAM, a participação dos atletas deficiência é uma atração à parte.
“Teremos aproximadamente 30 paratletas participando do evento. Alguns disputam as categorias específicas do paradesporto, mas outros preferem lutar com os atletas que disputam as categorias convencionais”, explica o Elvys Damasceno.
Um desses atletas sem medo de ser feliz é Diego Rodrigues da Silva, de 33 anos, que nasceu com uma deficiência congênita nas duas pernas e começou aos 10 anos na modalidade. Ele treina na academia do professor Marcos Patrício, no Nova Esperança, Zona Oeste de Manaus. Diego é faixa roxa e vai lutar o Máster 1 Médio no Amazonense de FJJAM – os combates acontecem no domingo (23/03).
“Desde que comecei no esporte, sempre gostei de lutar com os chamados ‘normais’, pois gosto de competir, gosto de me testar. O jiu-jítsu é tudo para mim. Me tirou de coisas ruins, melhorou minha saúde a minha autoestima”, disse Diego, que atualmente trava outra batalha. “Minha luta também é nos bastidores, pois estou sem receber meu BPC (Benefício de Prestação Continuada, do Governo Federal) e estou desempregado”, revelou o guerreiro.
Desistir não é uma opção
Superação é palavra para Ananias Tavares, paratleta do Clube Freitas do Mutirão, equipe de Diego Lopes, postulante ao cinturão do peso pena do UFC. Ananias seguia os mesmos passos do colega de academia e no dia 13 de maio de 2023 sofreu um acidente de trabalho – na mesma época, ele lutaria num evento de MMA amador no Pará.
“Fraturei minha perna direita em três partes e, por um momento, achei que ia morrer, mas Deus me deu mais uma oportunidade”, disse Ananias, que ficou com sequelas abaixo do joelho, perdendo o movimento dos dedos e do calcanhar. O sofrimento durou meses. O jiu-jítsu curou o atleta da Zona Leste de Manaus.
Ananias hoje é filiado à Federação Amazonense de Jiu-Jítsu Paradesportivo (FAJJP), que trabalha em parceria com a FJJAM, e articula a participação dos atletas nas competições estaduais, nacionais e internacionais do paradesporto.
“Minha classe no para jiu-jitsu é a L3, para pessoas que têm sequelas abaixo do joelho. Nós estamos na luta para mostrar o valor do parajiu-jítsu e que a inclusão deve ser inserida em qualquer esporte. Se for para desistir, desista de ser um fracassado – essa é a frase que eu carrego hoje comigo”, disse o lutador.
Igualdade e acessibilidade
De acordo com Elvys Damasceno, a inclusão de atletas com deficiência no esporte é fundamental para promover a igualdade e a acessibilidade. “Acreditamos que o esporte tem o poder de transformar vidas e superar barreiras. Ao incluir atletas com deficiência, estamos não apenas promovendo a igualdade, mas também mostrando que o esporte é para todos”, afirmou o dirigente.
Atleta de judô e jiu-jítsu, Rafaela Nascimento tem 14 anos e usa as artes marciais como atividade terapêutica para vencer o transtorno do espectro autista de nível 1 de suporte (leve). Segundo os especialistas, o jiu-jítsu e as artes marciais em geral melhoram a coordenação, a interação social, a autoconfiança e a disciplina.
A faixa verde vai lutar no Infanto-Juvenil 3, na categoria Meio Pesado. O 38º Campeonato Amazonense da FJJAM marca a estreia de Rafaela na equipe Jovens Embaixadores, sensação das categorias de base no estado.
Benefícios para o corpo e a mente
A participação de atletas com deficiência no 38º Campeonato Amazonense de Jiu-Jítsu é um exemplo inspirador da inclusão em ação. Além de promover a igualdade, a inclusão também traz benefícios para a saúde e o bem-estar dos atletas. “O esporte é uma ferramenta poderosa para promover a autoestima, a confiança e a saúde física e mental. O campeonato de jiu-jítsu é apenas o começo. Acreditamos que a inclusão de atletas com deficiência no esporte é um passo importante para criar uma sociedade mais justa e igualitária. Ao celebrar a diversidade e promover a inclusão, estamos construindo um futuro melhor para todos”, concluiu o presidente da FJJAM.
Fotos: Divulgação