A presidente do Conselho Regional de Engenharia e Agronomia do Amazonas (Crea-AM), engenheira de pesca Alzira Miranda, representou o Conselho Federal de Engenharia e Agronomia (Confea) durante audiência pública promovida pela Comissão de Viação e Transportes da Câmara dos Deputados. O debate, realizado na terça-feira (17) teve como foco a situação do setor hidroviário nacional e foi proposto pelo deputado federal e engenheiro Leônidas Cristino (PDT-CE).
Alzira foi convidada a apresentar a realidade da região amazônica, destacando a relevância estratégica das hidrovias para a logística de transporte e a integração territorial. “Na Amazônia, nossas hidrovias são as nossas rodovias. É pela água que chegam os alimentos, os insumos industriais e os produtos essenciais para as populações ribeirinhas e indígenas. Sem esse modal, estaríamos isolados”, afirmou.
A presidente do Crea-AM ressaltou o papel do modal hidroviário como eixo de desenvolvimento sustentável. Segundo ela, só em 2022 foram transportadas mais de 110 milhões de toneladas por hidrovias, o que representa cerca de 10% de toda a carga movimentada no Brasil. “Esse crescimento é resultado direto do fortalecimento de corredores logísticos como a hidrovia do Madeira, essencial para o escoamento de commodities como soja e milho produzidos em Rondônia e no sul do Amazonas”, explicou.
Sem políticas públicas
Durante sua exposição, Alzira também chamou atenção para a ausência de políticas públicas articuladas que promovam a integração entre os modais de transporte. “Temos mais de um milhão e duzentos engenheiros habilitados no país. Esses profissionais estão sendo ouvidos? Estão sendo convocados a contribuir com soluções técnicas? É preciso fortalecer os órgãos reguladores e garantir uma governança eficiente para o setor hidroviário”, pontuou.
Entre os principais entraves mencionados, a presidente destacou a falta de dragagem regular, a inexistência de eclusas adequadas, a insegurança jurídica e a complexidade regulatória como fatores que comprometem a eficiência do modal. Alzira ainda reforçou a necessidade de se considerar a diversidade do território brasileiro nas decisões estratégicas. “O Brasil precisa olhar com mais atenção para a Amazônia. A realidade da nossa região é completamente diferente. É necessário incluir nossas populações nos planejamentos e investimentos logísticos”, disse.
A audiência também contou com a participação de representantes do Instituto Brasileiro de Infraestrutura (IBI), do Ministério de Portos e Aeroportos, da Associação de Terminais Portuários Privados (ATP), da Infra S.A e da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), que discutiram soluções e gargalos enfrentados pelo setor.
Ao final da audiência, o deputado Leônidas Cristino ressaltou a importância de manter o Sistema Confea/Crea nos debates sobre infraestrutura nacional. “Sem engenharia e sem engenheiro, não há desenvolvimento”, declarou.
Para Alzira Miranda, a participação no evento representa um passo importante na luta por mais investimentos e por reconhecimento às peculiaridades da região amazônica.
“Estar nesse espaço, representando o Confea, o Crea-AM e toda a Amazônia, foi uma oportunidade de dar visibilidade às nossas realidades, aos nossos desafios e, sobretudo, ao potencial transformador da engenharia como motor de desenvolvimento sustentável para o país”, concluiu.
Fotos: Zeca Ribeiro/Câmara dos Deputados